terça-feira, 11 de novembro de 2008

Lugar Nenhum

Ele era cheio de manias. Fechado. Pouco falava e tinha muitos problemas para expressar seus sentimentos, suas angústias, seus medos. Travava na região entre o ombro e o pescoço tudo o que queria vomitar em cima das pessoas. Conseguia relaxar em alguns poucos momentos, e ela adorava conseguir fazê-lo sentir-se livre, nem que por um único segundo. Pensar que seu estômago não mais parecia estar cheio de vermes, mas sim, de borboletas, fazia com que o dia dela, sempre meio morno e cinza, se tornasse inesquecível.
Saltitante que era, na verdade, ela era perneta. Parecia ser brilhante, mas era fosca e sem valor. Sem valor porque fez muita cagada na vida e também pelo fato de ninguém a querer. Engraçado pensar que um dia lhe disseram que não valia nem um “tostão furado”. Nunca havia visto um tostão, sentiu-se incomodada com o fato de não valer algo que nunca vira antes.
E, apesar de toda essa aparência assustadora, ela era doce... algo como o Corcunda de Notredame. Tudo o que fazia era em nome de um amor por aquele que parecia tão diferente, que fazia questão de manter seus muros erguidos. Ela tentou construir pontes. Foi em vão.
Ele continuou tentando ver o mundo através de sua luneta e cercado por seus muros. Achava que enxergava muito além, por possuir um instrumento tecnológico que o aproximava das coisas mais longínquas. Mal sabia ele que quanto mais ele se focava em algo, menos via as coisas ao seu redor: perdeu a as flores desabrochando na primavera; perdeu a cachorra lhe lambendo o dedão do pé, pedindo um pouco de afagos na barriga; não viu a “banda passar”; não viu o mar; não estava presente quando todos se despediam; não tocou na mulher nua e bela que ficou ao seu lado... Esqueceu que tinha gente que o esperava, que, assim como a cachorra, só pedia um pouco de carinho.
Mas, não... A luneta era mais valiosa!
Ela, que não valia nem um tostão furado, passou a não valer nem uma luneta-lunática.

3 comentários:

Anônimo disse...

hahaha! adorei o "Saltitante que era, na verdade, ela era perneta."
Michael, o final dos seus textos é que são lunáticos! eu sempre imagino você rindo no final deles.

Michael Nakabayashi disse...

na vdd
eu n escrevi esse n
foi a Ju
tenho certeza
hahaha

Anônimo disse...

Porra! Também quero entrar pro clube dos twist-enderers! me aguardem.