segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Éden

Arnaldo encontrou a iluminação no fundo do terceiro copo de cachaça. Através do vidro, via os rostos deformados dos amigos vibrando de alegria. Estavam todos iluminados. Aquela era uma mesa abençoada e, sem dúvida, seria uma noite de muitos aprendizados. E não era para menos, poucas vezes se vira na Terra tantos sábios reunidos, jubilando e regozijando a própria sapiência.

Não fizeram feio... logo passaram a discorrer sobre os grandes temas da humanidade. E os resultados foram excelentes! Dentre outros, debateram sobre a existência, e chegaram à conclusão de que o sentido da vida era cafona demais para ser revelado aos profanos; descobriram que era possível erradicar a pobreza da cidade, a médio prazo, com o simples ato de mudar seu nome para “Pão Francês”; e que, com um pouco mais de empenho, poderiam salvar o mundo em sete meses e dezenove dias, desde que ninguém usasse o colant dourado. Arnaldo descobriu até o grande amor da sua vida, ali do lado, duas cadeiras à esquerda, personificado numa garota exótica cujo nome jamais seria capaz de relembrar sozinho. Ah... que noite, aquela!

Na manhã seguinte, Arnaldo passou a entender o que os sábios queriam dizer com “a verdade dói”. E assim como eles, passou a invejar a alegria dos ignorantes. Realmente, toda aquela sabedoria era muito dolorida. A pontada na cabeça não lhe deixava mentir e, antes que pudesse lastimar sua condição, se sentiu impelido por uma pressão interior a se despojar de toda aquela bênção, na forma de um jato amargo e mal-cheiroso. 

Esperava o quê? Provar do fruto proibido por míseros treze reais e vinte centavos (um e vinte eram da cobra) e não ser expulso do Paraíso? Não essa semana!    


- Noelman

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