terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Festa

A festa acabou e eu ainda nem comecei a dançar. Fiquei vacilando... inventando motivos, desculpas esfarrapadas, como se esperasse pela música certa ou pela companhia ideal. Pensei no medo de dançar, no vexame que poderia dar, na vergonha, no papel de ridículo, na imagem que teriam de mim... Desculpas tolas que não convencem nem mesmo a mim, mas que na hora acatei e vieram a calhar direitinho para reforçar a minha falta de iniciativa.
 
Agora a festa acabou... as luzes se acenderam, as pessoas foram embora e eu ainda sentado num canto, vendo se esparramarem ao chão todos os fragmentos de coragem que eu com muito esforço ia juntando ao longo da noite. Ao redor, só vejo bêbados deprimidos, empapados nos próprios fluidos malcheirosos. E ainda tento me convencer que foi por pouco... fico me esforçando em reconstituir na mente alguns pedaços daquela festa... tento, em vão, agarrar as últimas luzes coloridas, sustentar no ar os últimos acordes da última música e fazer perdurar aquele momento, para que eu finalmente pudesse dançar. Mas acabou... só a luz clara do salão e os ruídos da aparelhagem de som sendo desmontada.
 
E os pedaços daquela festa martelando minha mente... flashes de momentos em que eu deveria ter agido, ter dançado, ter mudado... Ah, aqueles raros momentos do dia em que temos a chance de mudar tudo o que não gostamos em nossas vidas... com simples gestos que parecem tolos aos olhos de quem vê, mas que para nós pesam muito. Eu deixei passar esses momentos, com o fajuto pensamento "não é a hora.. melhor esperar mais um pouco". E esperei... e até vieram outros momentos... mas estes também deixei escapar.
 
E todos eles escaparam... a música escapou... as pessoas escaparam... a escuridão e as luzes coloridas escaparam... e foi-se a hora. Vou embora. Porque nada mais restou...
 
A ressaca já zomba de mim.

- Noelman

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